Blogia
A FÁBRICA

A verdade não está num sonho mas em muitos

“ A fidelidade é uma virtude mas a inconstância também o é “ (As Mil e Uma Noites)

Porque qualquer comprometimento deve ser submetido à peneira do coração, sob pena de obstaculizar a nossa verdadeira fidelidade com a procura mais íntima. Estou estes dias a traduzir o Jalaluddin Rumi e encontrei este comentário “ vimos fazer uma só cousa, se a figermos e deixarmos sem fazer o resto, não tem muita importância; mas se figermos todas as cousas e deixarmos essa sem fazer é como se não tivéssemos feito nada”. Creio que nós somos e fomos de alguma maneira uma escola, e as escolas não permanecem inalteráveis, mudam em virtude das circunstâncias, algumas desaparecem. Nada mais do que uma escola, naturalmente de umas características diferentes ao que é habitual, em que não há magistério visível, apenas estudantes. Ou buscadores de pérolas, embora sejam já praticantes avançados. Valorizo muito as intervenções e o nível do Mário, o Ramiro e o Alfredo e compreendo a Táti, na sua expressa necessidade e vontade de mais ar, de mais mar. Na esteira da liberdade e o amor, o caminho dela ela mesma há-de acertar, mas é afinal precisa uma errância própria, e errância significa caminhar e aprender, como me dizia há anos o Chíqui. Mas não é, creio, o momento nem do travão nem da esgrima, está aqui a Táti a falar de algo muito importante, que não é a ortografia mas a adequação não traumática e fértil ao que nos cabe viver, sendo ao mesmo tempo, na medida da arte e o espírito de cada um, transmissores de tudo aquilo que de positivo nos foi entregue, em palavras de Saramago, da melhor maneira que soubermos. A melhor maneira de escrevermos é sempre na norma internacional da língua galega? Apenas é esse o ousado estatement de Táti. E dos sábios imprudentes é o ouro, parafraseando a Camões. Bem, em todo o caso, acedamos, na medida em que pudermos, ao Camões e ao melhor das nossa tradição literária clássica e moderna, e procuremos, se assim o requererem, que os nossos filhos recebam também a sua parte neste vinho excelente.

Um abraço.

2 comentarios

Pedro -

Hoje pensava que em breve pomos aqui alguma tradução de Rumi, é um trabalho que me colhe de maneira diferente a qualquer outra tradução anterior. E vai a um ritmo muito lento, porque preciso de um kairós, de um momento propício, e de um tempo poético (de um tempo com calma e energia para acometer um trabalho para o qual necessito todo o meu ser) que não me resulta fácil achar.

Táti -

Pois a ver quando nos deixas ler alguma dessas traduçoes.
o falar nao tem cancelas e menos quando falamos de cousas que nos parecem importantes.