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A FÁBRICA

Venho do mar aberto

Está um tempo prometedor, contanto que nos atrevamos a sulcar o imenso oceano que nos rodeia. Isto aqui, o lugar da fábrica, que imagino aberta, mais semelhante a um obradoiro do que a uma factoria industriosa, ao meio de azinheiras ou carvalhos ou ao pé da cordilheira do Rajastão (se o Rajastão tiver cordilheira...), isto aqui me serve para manufacturar cousas e ventos propícios. Afinal a literatura, a criação artística, é um meio que sinto especialmente próprio para espalhar as luzes que me são oferecidas nas viagens, os presentes dos amigos longínquos, os inquietantes e digestivos temperos achados nos confins da alma. E, polo mais, por considerandos sobre as políticas e outros, estou, com Fernando Pessoa, em que "tudo vale a pena, se a alma não
é pequena".

Até breve.

1 comentario

Alfredo Ferreiro -

Não sabes de que modo me tocou interiormente o ácio de imagens deste texto teu. Trabalho em uma fábrica do sector do metal, abondo industriosa e o cheiro salgado da Costa da Morte chega e penetra pelos portais até à minha mesa de trabalho. Felizmente cada meio-dia vou jantar perto do mar, concretamente na Pedra do Sal. E mais tarde, rodeado dos vapores do aço a mil e tal graus que uma dúzia de braços de Vulcano trabalha a doze metros por segundo, ainda a sua chamada alimenta os desejos de plainar sobre as ondas.
Esta primavera estou a vê-la mais renovadora do que nunca, e não penso pôr as mãos nas algibeiras se não for para premer as nádegas e correr ainda mais depressa!!!