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A FÁBRICA

Ramiro Torres

As minhas mãos têm a idade do universo

Caro Pedro, aqui tens esta colaboração, feita hoje, para a tua proposta.

Para o Pedro e o Xavier.

As minhas mãos têm a idade do universo,
Há nelas uma reminiscência de espelho irradiante,
Uma canção em que o centro de nós
É o lugar interdito, transparente, onde virarmos
A nossa mutilação em cópula mortal,
Trespassando o espaço cercado.

As minhas mãos desconhecem o tempo,
Permanecem quietas até a sua definitiva conversão
Em residência das árvores brancas que
Criaram as moradas dos amantes:
Luminosas habitações lavrando-se
Contra a ocupação das ruas pola areia silente.

As minhas mãos perduram na libertação
Que trazem as palavras a explodirem,
Orgulhando-se da sua gravidez secreta,
Abrindo fendas por toda a parte
Em que os ilhéus pressentem um mesmo fogo
Alimentando-os contra o seu desterro.

As minhas mãos, enfim, aquecem as horas
Com a serenidade líquida do amor,
Segurando-se nas ribeiras ocultas desta luz
Acontecida como o primeiro dia após do nada.

01-10-2005.

Blog de Xavier Vasques Freire

Conheço, quase por acaso, um blog que acho mui interessante.
É de Xavier Vasques Freire, e chama-se www.mapadedias.blogspot.com
Há um grande cuidado textual e visual, e uma listagem de outros blogs bastante ampla.

Giuseppe Arcimbaldo

Giuseppe Arcimbaldo Quero partilhar com vós a minha admiração pola obra deste autor italiano do século XVI. Fazia retratos de seres humanos com frutos e flores, lançando-nos uma bafarada de luz e frescura desde há centos de anos, com uma irradiante originalidade.
Gostavam muito dele, atinadamente, os surrealistas.
Há mais quadros que se podem ver se procurardes no Google, por exemplo.

Recital terça-feira 2 de Agosto em Corunha

A terça da semana que vem, 2 de Agosto, às 8 da tarde, haverá um recital de poesia dentro das actividades da Feira do Livro da Corunha, auspiciado pola A. C. O Facho.
Nele participarão Luís Maçãs, Alfredo Ferreiro, Táti Mancebo, Ramiro Torres, Luzia Aldao e possivelmente alguma surpresa de última hora...

Saúde e Poesia

Proposta de enlaces

Proponho considerar como enlaces estes provedores de luz e palavras:

www.nescritas.nletras.com
www.astormentas.com

Que vos parece?

A Sandra e Miguel.

O poema,
Copo de sangue branco
Vertendo-se nos teus lábios
Como o fogo invisível
Do veneno final,
Anda à tua procura,
Dentro,
No lugar inabitado
Que nunca reconheces teu,
Sempre o maior inimigo
Da tua rendição.

Sefer Sefarad (as canções da diáspora)

II. Canção


Dançar com os intérpretes
da melodia do mundo,
os que dão à luz um universo de encontros
e inauguram, intactos,
um Sol novo
e uma Lua nova,
dançarinos nas sombras.

Um barco de algazarras atravessa o perfil
e inicia a luz de um dia
a luz, a que plantou
as velhas oliveiras,
calcanhares surdos
da nossa promessa.

O meu lugar é aqui,
em toda a parte,
onde cantar,
e devotar-me a um exercício milagroso
de encantamento e penumbra.

Quem me dera voar na vertigem
das selvas da nossa própria carne
e vestir-me de negro e esmeraldas
arrumando a velocidade do corpo
para um universo novo de rum e especiarias

invisível através de ti.