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A FÁBRICA

As minhas mãos têm a idade do universo

Caro Pedro, aqui tens esta colaboração, feita hoje, para a tua proposta.

Para o Pedro e o Xavier.

As minhas mãos têm a idade do universo,
Há nelas uma reminiscência de espelho irradiante,
Uma canção em que o centro de nós
É o lugar interdito, transparente, onde virarmos
A nossa mutilação em cópula mortal,
Trespassando o espaço cercado.

As minhas mãos desconhecem o tempo,
Permanecem quietas até a sua definitiva conversão
Em residência das árvores brancas que
Criaram as moradas dos amantes:
Luminosas habitações lavrando-se
Contra a ocupação das ruas pola areia silente.

As minhas mãos perduram na libertação
Que trazem as palavras a explodirem,
Orgulhando-se da sua gravidez secreta,
Abrindo fendas por toda a parte
Em que os ilhéus pressentem um mesmo fogo
Alimentando-os contra o seu desterro.

As minhas mãos, enfim, aquecem as horas
Com a serenidade líquida do amor,
Segurando-se nas ribeiras ocultas desta luz
Acontecida como o primeiro dia após do nada.

01-10-2005.

5 comentarios

xuntaletras -

mellor na chave

Pedro -

Interessante poema, Ramiro, sinto essa terra que lembras. Outra consideração, uma amiga comentou-me há dias que na Índia tinha necessidade de velar-se por completo nas ruas, nos mercados... porque ante a exposição da sua inocência e da sua beleza era atrozmente assediada por certos elementos, alheios à mais básica consideração polo próximo.

mário -

O seu poeta oficial do regimen, obrigado. Ah, não, este não é o caso! Que bons são os poemas que nunca escreveremos, caralho.

leco -

Xuntaletras: Engrazado

xuntaletras -

o seu poema, grazas
o seu tabaco, grazas