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A FÁBRICA

Canção da noite de São João

Da minha procura em forma de livro, resgato um novo texto da diáspora, conhecido como "O casamento do enfeitiçado" ou "Canção da noite de São João".

Vêm aqui escuitar a música
os hinos fortes e tristes
que iluminam o temor
e as noites do espírito.

Vêm ouvir as melodias que
encantam os dedos, como cigarros
e fumo, envoltos numa
transitória, delicada dança.

Ouvir histórias que alimentem
armários vazios, rapsódias
para a felicidade das tumbas.

Porque esse é o destino da pele,
converter-se no palácio dos vermes
em breve.

Ao mesmo tempo, este, nosso momento,
de sombra e música, é único,
porque podemos
aprendemos como voar e cantar
e crescer altos e definitivos sobre o lume.

Vimos aqui bailar e aprender
uma nova voz cantada
que não ensina nada
que não dura
que morre e em cada gesto
permanece, sístole e
diástole do amor, metáfora
do entendimento.

Vimos aqui cantar a nossa morte
Cantar, após a morte, a nossa vida.

5 comentarios

Ramiro -

Não, Táti, não vai por ti, como bem sabes.
Refiro-me àquelas das que falava o Breton num dos seus manifestos surrealistas e que afectam, ou podem afectar, a quaisquer seres humanos (eu próprio o primeiro).

Táti -

o das contradiçoes nao ira por mim, nao?
hehe

Pedro -

Figem ontem à noite uma cacharela no coração com o calor dos amigos, Táti e Ramiro, e espero que todos continuemos a arder sem queimar-nos nela.

Ramiro -

Nessa procura andamos todos, em forma de livro e em forma da nossa existência. As nossas sucessivas mortes levam sempre a uma outra vida, mais alta e profunda cada vez que isso ocorre.
E ocorre muito, felizmente, aos namorados, como tu bem sabes, e vives, irmão.
Convoco, desde aqui, a todos a acudirmos a esse espaço que o poema desenha, a arder, no meio desta Noite Imensa onde todas as contradições desaparecem.

Táti -

Pois vou!
O teu poema xa me convenceu!
Feliz San Xoán a todo o mundo!