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A FÁBRICA

REFLEXIÓNS SOCIOLITERARIAS

Algunhas razóns que se me ocorren para utilizar tamén as Normas Ortográficas da R.A.G. (nin con orde nin por orde):
-Porque teño vontade de participar todo o libremente que podo na sociedade que me rodea: desde enviar unha carta a un xornal a publicar na miña “aldea”. Abrir as posibilidades de intervención social: introducir contidos libremente. Non quero renunciar a nada.
-Porque non quero escribir de varias maneiras diferentes só por obrigación, precisando de un traballo de revisión de coherencia cada vez que escribo calquera cousa que alguén máis vai ler ou pode ler.
-Porque termos como caneta ou brinco me resultan tan alleos como os seus correspondentes en euskara, por moito que boli e pendente sexan castelanismos.
-Porque aínda que me parezan moito máis lóxicas as normas de acentuación portuguesas ou me dea certo arrepío ao escribir cousas como beirarrúa, creo que son o tipo de cousas susceptiveis de seren mudadas cara ao portugués se decaer un bocadiño a relevancia do conflito ideolóxico ligado á ortografía; e mesmo, talvez, sexa preciso o confronto desaparecer para que estas mudanzas se sistematicen cara a un estándar que sobreviva máis de dous anos. Eu, pola miña parte renuncio a seguir a facer bandeira dese conflito. En último caso, por que non facer o que todos os escritores en Norma Oficial, oficialistas ou non, que non hai unha honrosa excepción que cumpra a norma como o fai coa do castelán, nin por vocabulario nin por estruturas.
-Porque é unha ferramenta útil para a comunicación co máis próximo.
-Porque con todo ser o portugués un material máis rico en xeral, tras moitos anos de estudo considero que é moi difícil adquirir a competencia que faga rendível ese corpus tan completo.
-Porque, pensando na literatura, escribir en portugués na Galiza é dedicarlle a maior parte do tempo a un só dos elementos que acaban dando nun texto. Ter materiais de primeira non asegura a construción dunha boa casa; lonxe disto, existen construcións feitas con materiais pobres e deseños simples que son grandes obras de arte.
-Porque a finalidade da casa é acoller as persoas de forma adecuada. Se o obxectivo de facer literatura é defender a lingua, a súa base será o material lingüístico, mais se o seu obxectivo é comunicar pensamentos poéticos, a súa base será atinxir esa comunicación.
-Porque non considero que antes estivese equivocada e agora non. Nin o estaba antes nin o estou agora. Nin tampouco estou libre de mudar de opinión de novo no futuro. Simplemente me sinto libre para experimentar.
-Porque o pensamento poético é libertario e portanto incompatível con calquera fundamentalismo: na miña opinión, Eusebio Lourenzo Baleirón facía boa poesía e Guerra da Cal non.
-Porque do punto de vista sociopoético non se é poeta galego/-a. Hoxe en día isto paréceme difícil de asimilar.
-Porque a miña patria é a lingua portuguesa, escríbaa como a escriba.
-Porque, como estou esgotada de unha militancia que xa non sinto como propia, decido trocar a militancia da escrita pola da comunicación.
-Porque por salvagardar tanto a integridade formal da lingua, as miñas ideas poéticas, a miña concepción do mundo, a miña ideoloxía, en moitos sentidos, fica fóra da sociedade en que vivo. A moitos efectos estou autoestigmatizada, mais acho que non teño vocación de mártir. Dun punto puramente lingüístico non vou renunciar nunca, creo eu, ás miñas convicións reintegracionistas, mais dun punto poético e ideolóxico penso utilizar para me comunicar o vehículo máis útil en cada momento.
-Porque nun dado momento comezou a ser un freo para a creación que vin que nin os artistas plásticos nin os actores e actrices, por pór só dous exemplos, tiñan. E que, de o teren, probavelmente descoñecería cousas que valoro moito.

27 comentarios

Pedro -

Nada, amigos: a amizade é uma riqueza, das poucas que há, e somos ricos. Táti, passo-che isso e explico o que me pedes, também respondendo ao abraço quádruplo do Alfredo: acontece-me que, como a maioria de vós, há anos que não participo em polémicas (nem em partidos) mas sim, como vós, em "construções" várias, em trabalhos contingentes. Perdido o costume antigo meu (e de muitos)de polemizar e teorizar e não sei que mais, como forma protagónica (mesmo secundária) de interactuar em sociedade, -porque polemizar etc. tem o seu rendimento- pois não só não quero, como vós, creio, recuperar esse stil vecchio mas é que não o suporto animicamente, ao qual ajuda também o ambiente de batalha perdida em que professionalmente me movo. Enfim, prefiro sublinhar que estes dias me apercebi mais intensamente do rico que sou, e será inevitável comportar-me em conseqüência: tenho uma ampla casa para todo aquele que só disponha de coração. Um abraço.

Alfredo Ferreiro -

Rogo me desculpem pelo tom usado na intervenção anterior. Sou ainda muito novo nesta forma de comunicação e não domino suficientemente a cortesia que se precisa. O sinadelfo dendróbata pede perdão por duplicado e lamenta não existirem árvores para alcançar todos os destinos. Humildemente, talvez. Um abraço, quádruplo.

Táti -

Ainda que nao compreendo bem o porque do teu tom um tanto ferido no teu comentario anterior, sim estou de acordo em que este blog deve manter um tom que permita falar e discutir de qualquer cousa em termos, que diria eu, amigaveis, por mui apartados que forem os pontos de vista. Gostei muito da sms industrial que me enviache o outro dia, serias quem de lhe dar forma de novo, ou a mesma (eu borrei-na sem querer) para a podermos por como introd. do blog? Podes passar-ma por e-mail. Beijinho

Pedro -

É interessante o que dis, Ramiro, também penso isso. A respeito dos poemas, ó Mário, dedicarei-me a isso. Compreendo o que comentas, Alfredo. Um abraço.

Pedro -

Vale, questão (não só) de forma: falai do que prefirais pois, mas eu achei que este era o post para falar nos termos em que falei, e não acabei ainda de compreender por que é que não nos lemos mutuamente com mais consideração e atenção ao escrito (e se for assim, desculpas, eu não o noto). E pido desculpas se li ou respondi a alguém sem a consideração suficiente polo seu trabalho ou a sua pessoa.

Alfredo Ferreiro -

Gostava de falar de literatura ou ainda mais concretamente, de poesia desde que o Pedro tira do bolso um livro de Hélder e outro de Natália Correia (Pessoa acho-o tão lírico como Lorca e dá-me vontade antes de tocar a guitarra). E aconteceu que, subitamente, apareceu toda a teoria reintegracionista concentrada em três linhas... Está bem, a gente fala do que quer... mas eu prefiro relatar a verdadeira história do meu primeiro encontro com um sinadelfo dendróbata. A partir daqui a minha vida mudou: era um verdadeiro bilingue.

Mário Herrero -

Como que um respiro, como que um respiro... Ainda estou a esperar polos teus poemas!!!!!!

Ramiro -

Só uma cousa:
Lembro um comentário não sei se de João Facal ou de Xavier Alcalá, que lera há já uns anos. Nele dizia que a integração no espaço político da CEE (daquela) fez mais pela comunicação entre o aquém e o além (-Minho, entendamo-nos)que todos os discursos sobre a união -ou quando menos muita cercania- entre "galego" e "português" na consciência colectiva e individual feitos polo galeguismo, reintegracionismo ou qualquer outro -ismo.
Acho que isso provavelmente fosse mais uma boutade que outra cousa, mas ainda assim há muitas ironias na história que levariam a que, por razões de qualquer tipo as que se poderiam aguardar logicamente, se chegasse a pontos insuspeitados.
Acho que o Pedro e o Mário possuem partes da verdade (uma mais branca e outra mais desesperançada). Mas, no entanto, eu digo que o melhor sempre vai ser trabalhar, trabalhar e trabalhar com as melhores ferramentas -exteriores e interiores (se é que se podem dissociar)- que tenhamos.
Saúde e Poesia.

Pedro -

Joder.
Quando tinha 11 anos perguntei na aula (de sexualidade, em 1979!)por que é que os homens e as mulheres se sentem mutuamente atraídos (habitualmente), com a conseqüente risotada da turma toda e do professor. Não me responderom. Naturalmente que os motivos óbvios me resultavam óbvios, perguntava era por que, na realidade, tivesse-me bastado uma explicação química até, cultural, nem sei. Mas derom por sentado que era uma obviedade hilarante.
Assim que fiquei mui calado, e não perguntei mais.
Mário, dá-me um respiro.

Mário Herrero -

Sim, galeguização do português... Sim, ho, sim... Sempre admirei o teu optimismo. "Poupar" é um lusismo na Galiza, desterrados dos dicionários... menos de algum velho que há por aí. Além disso, há já vários livros publicados em galego-castelhano em Portugal (por Edições Tema, por exemplo), não é notícia nova. Tanto faz, continuará a ser extravagante...

Pedro -

...Por exemplo, sabeis que o comum em Portugal para aludir ao dinheiro que não gastas é "poupança" e que em vários lugares minhotos eu já vi anúncios que falam da melhor maneira de gerir os seus "aforros" é na caixa tal ou qual...? Imaginais por que estão a recuperar em esses âmbitos uma velha palavra como essa?

Pedro -

Olhai, vejo que a Fran Alonso lhe publicam um romance em Portugal, com ortografia (suponho) castelhana, e que o editor achou evidente que "publicava em galego porque era para Portugal". Pronto, não conheço a qualidade do romance mas acho positivo o facto porquanto é normalizador da vida literária, para além de que se os escritores galegos sabem que começam a ter esse mercado, as suas opções lingüísticas tenderão a aproximar-se do padrão internacional da nossa língua, conservando todas as fortes personalizações das falas galegas -que a propósito não constituem em conjunto nenguma unidade com riscos profundos diferentes às do além-Minho, salvo os castelhanismos, e -demais a mais- nossa presença pode contribuir a realçar o padrão fónico e a recuperar soluções hoje tidas por rústicas do recentemente destronado padrão de Coimbra, como sugere e defende o ex-deputado e amigo João Facal.

Pedro -

Passo de polemizar, com todos os respeitos. E eu, melhor não perderia o tempo em levar contas, porque o facto é que para ser um bom poeta não se precisa nem sequer de escrever, menos ainda de ortografia... Ora, para mim, para ser um bom autor de poemas, escritos, é preciso controlar bem uma língua, independentemente da ortografia e devemos perceber-nos de que jogam com vantagem os que se alimentam melhor (os que têm crescido poeticamente vinculados ao trabalho poético de um Herberto Hélder, uma Natália Correia, um Fernando Pessoa...). Depois que escrevam como melhor julguem, mas a inserção efectiva no âmbito lingüístico e literário que é nosso nos proporciona a todos os que assim procedemos(lusógrafos ou não, a língua é a mesma) uma inegável vantagem qualitativa.

Mário Herrero -

Não tenho por costume discutir com anónimos, mas cada dia me surpreende mais a incapacidade de algumas pessoas para captar as ironias. Enfim...

Cesare -

:) moi ben, martin, moi ben...
anque non sexa moi importante... teñen botada a conta dos poetas bos reintegracionistas e dos outros?

Táti -

Era eu. Esuqcera por o nome.

Anónimo -

Sim, mas e o que di dizes, nao tem a recompensa imediata e, polo menos aqui, e tao facil ganhar um concurso literario...

Martin Pawley -

Si, seguramente así é, aínda que nomes proprios na rede haiche ben poucos (quizá porque escribir na rede non ten recompensa inmediata). O que me sorprende é que non haxa moita mais xente que se bote á rede como lugar onde poder publicar aquelas cousas que noutros lugares sería imposíbel dar a coñecer. A rede é cómoda, barata, práctica e todo nela ten unha difusión sempre maior da que un imaxina. Pois iso.

Táti -

Hummmmmmm, (estou mui onomatopeica ultimamente) Tampouco e exactamente assim, creio eu, porque continua a haver muitos leitores que procuram nomes proprios mesmo na rede... mas isso e cousa que depende do que cadaquem procura, porque entre o que se procura e o que se encontra hai um vazio cheio de surpresas!

Martin Pawley -

Di Mario no primeiro dos comentarios que "há muitos mais poetas isolacionistas maus do que reintegracionistas". En termos absolutos é así, con certeza; o que xa non teño eu tan claro é que suceda o mesmo en termos relativos, e iso tampouco é cousa que importe, realmente. En todo caso, se algo bon ten Internet é que ofrece as mesmas oportunidades para todos. Aquí tanto dá que un se chame Pawley, Tati ou Jaureguizar; é o mesmo, o que conta é unicamente o que un di. É por iso que me sorprende que a cantidade de xenios que se lamentan de que "o sistema" os condena á marxinalidade sexa aínda extremadamente superior á dos que se deciden a apostar por estas illas/ilhas de liberdade que a rede nos outorga.

táti -

Buffffffff. Gana de provocar, a verdade nao tenho, polo menos com este tema, mas sim de falar com os amigos disto e de muitas outras cousas. Ate hoje nao soubem dessa polemica sobre esta mesma questao que anda por ai em certos blogs. Por suposto que toda acçao tem consequencias, independentemente de as aceitarmos ou nao.
Eu nao pensei nem por um momento na quantidade de poetas bons e maus que ha em cada sector mas em que os ha bons e maus em cada um deles.
E a respeito do idealismo, que queres que che diga, que acho que tanto idealismo linguistico me estava a amargar a comunicaçao por momentos.

Alfredo Ferreiro -

Penso que terei chegado onde eu só podia chegar, ainda que para outro pareça o destino comum de uma multidão. O meu destino me levará e os outros me verão, mas provavelmente não perceberão o caminho percorrido e portanto o sentido completo do lugar que ocupe. Importa o destino da viagem, mas também o motivo de alí chegar. Num mesmo lugar e com a mesma ferramento podem-se fazer cousas muito diversas.
É tarde para dizer que o teu leitor es só tu, desde que publicaste obra somos todos os teus leitores.
E, finalmente, para que relativizarmos a importância de tudo, quando levamos tantos anos de intervenção social premeditada? Preocupámo-nos com tanto para agora dizer que não paga a pena falarmos da importância dos pontos de vista?
Bom, podemos deixar de exprimir as ideias agora que de novo nascem na ponta dos dedos... Não pretendia ensinar nada, mas pôr sem pudor as minhas ideias na arena.

Mário Herrero -

Bem, mas não eram precisos tantos anos para chegar ao que outros chegaram há vinte anos. Eu levo por volta de quinze tentando construir um poema, isto é, um objecto e um objectivo artístico. Esse
é o motivo da minha escrita, e não outro. Portanto, aplica-te a ti conto, se assim o quiseres, ainda a custo de seres injusto contigo próprio, mas para mim não olhes. O meu leitor sou eu, para ti, se o desejares, todo o público do mundo. Todos temos direito a evoluir, e até a involuir, mas para que tantas explicações? Fazemos, erramos, acertamos, morremos, nascemos... Perdemos, ganhamos, cada um escolhe o seu campo literário, o seu campo intelectual, mesmo a sua morte. Só nascer é que não escolhemos, nunca. Nasce-te, se assim quiseres, mais sans leçons morales, s'il te plais, je suis très fatigué, ces sont trop de mots!

Alfredo Ferreiro -

Te entiendo, Mário, pero ¿por qué no cogemos las palabras por las sílabas y las hacemos cantar en vez de escribir constantemente una teoría lingüística con cada poema? Los escritores hacen masa con el lenguaje, con todo y libremente, porque el fin es la comunicación de un pensamiento poético a través de las tres dimensiones del espacio. ¿Por qué algunos de los que nos hemos llamado poetas durante años no hicimos esto con la lengua? ¿O es que siempre habremos de volver a acordarnos del ano y las pastillas cuando pretendemos salirnos de una pauta marcada más por los materiales de trabajo que por los objetivos artísticos? Água de beber, camarão...

Mário Herrero -

Contudo, e para sermos justos neste jogo, devo dizer que nenhum dos argumentos que ofereces para justificar a tua eventual inclusão num campo literário (ou ainda intelectual) que já não é o meu, me lembra a ti. Demasiado prosaico, tanto racionalismo, tanto materialismo, tão pouco... idealismo. Com certeza, teria esperado algo mais formoso, tipo "vanitas vanitatis" ou "a queda do cabalo", um acto de fé. Nada relacionado com a escrita na Galiza é inocente. Nada relacionado com a língua é inocente. Continuaremos a jogar neste extremos da vida. Tudo é estética. Ou tudo é ética, que é o mesmo. Eu pessoalmente prefiro o espanhol, porque, finalmente, é parte da minha vida. Em Junho ou Julho, a editora portuguesa ArcosOnline vai publicar-me um livro electrónico, intitula-se "A vida extrema". É provável que já não escreva mais poesia na minha vida. Esgotaram as fontes. Sou um ventre feliz com um frasco de antidepressivos obstruindo-me o ânus. Cada um faz as suas escolhas na vida, e é apenas a si próprio a quem deve explicações. Saúde.

Ramiro -

Acho que neste país sempre há que se justificar previamente sobre a maneira em que escrevemos antes que pela escrita em si.
Semelha claro que alguém que escreva em galego internacional (diga-se português se se quer) tem uma base mais ampla para a experiência poética: um material candente do que não dispõe alguém que empregue o galego "oficial". Isso pode levar-nos a um paradoxo: se alguém com menos base literária e linguística é capaz de fazer uma boa poética lograria-o tendo menos recursos iniciais, ou mais talento, se o queremos ver do outro lado.
Mas, no entanto, eu, como leitor e criador, acho que o realmente importante é a escrita, a poética, a prática incendiária sobre a nossa vida que traz a Arte.
Cada pessoa terá ou elegerá os caminhos que considere.
E aí concordo com o que diz Mário: as cousas é que se fazem, e ponto.
No referente ao outro comentário dele é certo que há mais poetas isolacionistas maus, mas talvez também porque é mais fácil publicar assim, e, portanto, são mais visíveis.

Mário Herrero -

Como provocação, não está mal (ainda deverias corrigir algumas cousas que ainda te estigmatizariam perante a oficialidade), mas acho que não são necessárias justificações. As cousas é que se fazem, e ponto. E arrostar as consequências. Mas uma cousa é certa: há muitos mais poetas isolacionistas maus do que reintegracionistas. Saúde.