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A FÁBRICA

Aclarações, com fundo de Jaureguizar

Com intenção de aclarar um ponto ontem falado com o Mário Herrero, com afecto e sinceridade, escrevo aqui. Há breve participei pola primeira vez no blog de Jaureguizar, na “Morte de um Jovem Contribuinte”, e participei porque considerei um assunto interessante, julguei ter visto o veio do monolitismo nacional numas aclarações, bem-intencionadas, sobre o uso da língua galega. E de facto, aproveito para deixar um ponto positivo para o esforço e atitude de Jaureguizar. Chamo a atenção sobre a fixidez, ao meu critério, de intentos de alteração dos usos lingüísticos por via da coerção moral, ou da estigmatização. E chamo a atenção a esse ponto porque creio que as pessoas usarão a língua ou a forma da língua (ou a ortografia) que mais as favorecer, em que melhor se desenvolverem, e o mais são mais ou menos martirológios ou linchamentos vários. Pessoalmente, não tenho qualquer compromisso com nada que não seja a procura da própria sensatez, e reconheço-me necessitado de todas as demais consciências para me não extraviar demais; de modo que obviamente não sou desaprovador nem comigo nem com os mais polo uso de qualquer instrumento lingüístico que se julgar próprio ao lugar, a gente e o tempo.

Com certeza que, como nos transmite a tradição dos movimentos de reconstrução civil galega, a língua original da Galiza é o galego, língua também chamada de português fora dessa nação, e com certeza será uma enorme riqueza para os habitantes da Galiza, para a Lusofonia, para o mundo talvez, a língua galega se normalizar ( e ao meu modo de ver isso significa “se reintegrar no âmbito lusófono”) sem exclusões legais de nengum outro uso que qualquer sector significativo da sociedade galega mantiver. Creio que o único importante, nesta altura e a este efeito, é munir-nos de instrumentos desenvolvidos de comunicação, e creio que no nosso caso, espanhol e galego (ou galego-português, quaestio nominis) são instrumentos próprios para a expressão desenvolta das ideias e a informação, bem como para o acesso aos textos universais de valor na nossa própria língua, sobretudo aos literários. Nesse ponto julgo mui necessária a intervenção da gestão pública na implementação do ensino da língua galego-portuguesa, e saúdo satisfactoriamente (considerandos e reticências admitidos) a redacção das novas normas oficiosas, que possibilitam um acercamento notável ao que é a língua galega do Brasil, Portugal e países lusófonos, mas sobretudo exprimo meu desideratum de que pola parte do poder público se favoreça o acesso efectivo aos textos do mundo de expressão galega, acolhendo institucionalmente a publicação na Galiza de obras dos escritores lusófonos clássicos e modernos, bem como sua inclusão nos programas de literatura galega, tal e como estava previsto há mais de 20 anos. E polo mais, fale-se e escreva-se como aconselhar o bom senso e a competência lingüística mas, por favor, cultive-se o bom senso, a competência lingüística e a consideração polo próximo. No aqui escrito podo enganar-me, Deus sabe mais.

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